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Numa iniciativa do Luso Centro/ BCC – Bristol Community College de Fall River, aceitei o desafio juntamente com João Andrade, artesão de vimes, para desenvolver um projeto sobre “A atividade dos cesteiros de Água de Pau” e o seu papel na economia e promoção turística dos Açores em geral e do concelho de Lagoa, em particular. Assim de 9 a 12 de Outubro, desenvolvemos o tema dando aulas a algumas turmas do Professor José F. Costa, na citada Universidade de Fall River - BCC - Bristol Community College.
Em Fall River, desde a primeira aula de “Cestaria”, que decorreu no dia 9 de Outubro, o grupo de alunos coordenados pelo Professor José F. Costa colocaram questões relacionadas com a atividade do cesteiro e interagiram, todos eles, com mestre João Andrade. Este, ensinou-lhes técnicas básicas para se poder trabalhar o vime, enquanto eu documentava o enquadramento histórico desta atividade tradicional de Água de Pau e a sua importância e utilidade na sociedade açoriana, em particular na de Água de Pau, no passado e ainda no presente. Cada aula teve a duração de duas horas e a última aula terminava pelas nove horas da noite com os alunos e alunas a demonstrarem muito interesse em descobrir o máximo de formação e prática sobre a cestaria.
João Andrade viria mesmo a comemorar os seus 49 anos de atividade como cesteiro, ensinando a sua atividade na sala de aulas de uma universidade, nos Estados Unidos, o que é muito gratificante para alguém que dedicou a sua vida a uma tradição que já foi tão importante na Vila de Água de Pau e, que urge proteger e promover.
Para melhor compreendermos este interessante estado de coisas, temos de recuar na história. Foi a 7 de Outubro de 1963 que João António Andrade se inscreveu na Indústria de Vimes de Água de Pau, integrada na altura, no Centro Micaelense da Assistência. Apenas tinha 11 anos e terminara a escola primária. Na altura a cestaria ocupava ainda um lugar de destaque na economia da Vila de Água de Pau. Envolvia imensas famílias, várias oficinas e uma indústria de vimes, que movimentava mais de uma centena de pessoas nessa atividade até meados da década de 1960. A partir desta altura, a maior parte dos cesteiros locais emigraram, partindo famílias inteiras para os Estados Unidos e Canada.
Mestre João Constantino foi o primeiro professor de cestaria que João Andrade conheceu, e de quem recebeu a inspiração para escolher para si a profissão de cesteiro. Dos nove rapazes que se inscreveram, com ele, na escola dos vimes, só ele continuaria ligado a esta arte. Foi uma vitória para ele, porque, dizia-se na altura que os filhos de cesteiro é que seguiam a profissão do pai e João não tinha nenhum cesteiro na família. Mas, por convicção era essa a vida que desejava para si. João cresceu, desenvolveu-se e fez carreira de cesteiro. Nesta vida, casou e alugou casa. Construiu sua casa e criou seus filhos ensinando-lhes essa profissão. Dos cinco filhos, três sabem dessa actividade, dois já casaram e um deles ainda trabalha ao seu lado, na sua oficina. Atualmente, mestre João Andrade é o artesão mais internacional do nosso arquipélago, credenciado pelo CRAA – Centro Regional de Apoio ao Artesanato dos Açores. Tem mostrado e defendido a cestaria e a sua herança cultural de Água de Pau, em feiras e festivais internacionais, de forma repetida, nos Açores, em Portugal continental, na Espanha, nos Estados Unidos, Canada e Bermuda.
O cesteiro João Andrade vem participando nas Feiras Tradicionais Portuguesas, coordenadas por mim, desde 1998, nas comemorações do Dia de Portugal nos Estados Unidos e, ensinar nas escolas americanas a sua atividade, não era já novidade, mas foi a primeira vez que ensinou numa universidade, cujo projeto desenvolvemos em conjunto, como membros da Associação Mosaico Cultural e Solidária de Lagoa, Açores, EUA e Canada.
Esta iniciativa teve o apoio do LusoCentro / BCC – Bristol Community College e Sata Azores Express.
Roberto Medeiros
Associação Mosaico Cultural e Solidária de Lagoa, Açores, EUA e Canada
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